80 anos da criação da Província da Imaculada Conceição

80 anosMissionários Saletinos: 80 anos da criação da Província da Imaculada Conceição
O que esse acontecimento nos interpela?
 
A Congregação dos Missionários de Nossa Senhora da Salette é formada por nove Províncias, entre elas a Província da Imaculada Conceição, que completa 80 anos. Embora o marco referencial da presença saletina no Brasil seja a chegada do Padre Clemente Moussier no Porto de Santos, a 18 de dezembro de 1902, só depois de 32 anos, precisamente em 1934, que os religiosos saletinos no Brasil, assumem a missão a partir da criação do seu provincialato.
Se buscarmos a inspiração deste acontecimento, comparando o seu caminhar com uma pessoa que chega a esta idade, podemos afirmar que de um octogenário aprendemos a sabedoria e experiência de vida. Com todo respeito àqueles a quem Deus deu a graça de viver esta idade, sabemos por outro lado, que ao chegar aos 80 anos, a pessoa carrega o “peso” do cansaço dos anos vividos, a debilidade e desgaste dos órgãos vitais, o que impede em lança-lo aos desafios da missão. Creio que  temos uma dupla tarefa: não abandonar nem descartar a experiência de vida dos “octagenários”, como também em  não deixar as “dores e o cansaço do corpo” impedirem o ardor missionário.
Ao completar 80 anos de criação da nossa província, busquei uma inspiração metafórica: 80 é a soma de 40+40. Quarenta na Bíblia é número simbólico. Estamos completando duas vezes quarentena! Temos dupla tarefa, dupla responsabilidade. Esta inspiração dentro deste acontecimento nos interpela aplicarmos a regra matemática nas categorias teológicas:  amar2missão2, perdão2...
Quarenta: Número que indica um tempo necessário de preparação para algo novo que vai chegar: 40 dias e quarenta noites do dilúvio (Gn 7,4.12); 40 dias e 40 noites passa Moisés no Monte (Ex 24,18; 34,26; Dt 9,9-11; 10,10); 40 anos foi o tempo da peregrinação pelo deserto (Nm 14,33; 32,13; Dt 8,2; 29,4, etc.); Jesus jejuou 40 dias antes de começar o seu ministério (Mt 4,2; Mc 1,12; Lc 4,2); a Ascensão de Jesus acontece 40 dias depois da Ressurreição (Act 1,3). Quando alguém errava, era corrigido com 40 chicotadas (Dt 25,3) e Paulo também recebeu cinco vezes as 40 chicotadas menos uma (2Cor 11,24). Do ponto de vista teológico-litúrgico-espiritual o sentido se aprofunda e relaciona-se com a experiência que o povo faz de Deus ou como lê a ação Dele em sua história: os 40 dias e 40 noites da inundação do Dilúvio originam uma nova humanidade purificada pelas águas (Gn 7, 4-17); a peregrinação do deserto e a travessia do Mar Vermelho para chegar à Terra Prometida, tempo de provação e de purificação (Ex 14, 18-27); Moisés que permanece 40 dias e 40 noites sem comer e beber para receber a Aliança no Sinai (Ex 24, 12-18; Dt 9, 9); a penitência dos ninivitas antes de receberem o perdão de Deus (Jn, 3, 4), a caminhada do profeta Elias durante 40 dias e 40 noites para chegar ao monte de Deus (1Rs 19, 3-8); o jejum de Jesus durante 40 dias e 40 noites, quando foi tentado pelo Diabo (Mt 4, 1-11), e outras.
 
01.     Oitenta anos de Província: dupla oportunidade de refazermos nossa história
Por muito tempo entoamos esta canção: “Animados pela fé e bem certos da vitória, vamos fincar nosso pé e fazer nossa história e fazer a nossa história, animados pela fé”...
Nesta longa caminhada pelo deserto não há nada que possa distrair. Tudo é seco, sem vida. O que sustenta e guia o caminhante é a luz escura que lhe vem do ponto de chegada, lá da Montanha de Deus. A caminhada é como os 40 anos que o povo passou no deserto: é o tempo necessário para refazer a história, refazer a pessoa desintegrada, reencontrar a vida, reencontrar-se a si mesmo, beber do próprio poço e redescobrir a luz da presença da Deus na escuridão da noite, perceber algo da presença de Deus no centro mais profundo de si mesmo. São os 40 dias que Jesus passou no deserto preparando-se para a sua missão e enfrentando a tentação do demônio com a luz da Palavra de Deus.
Oitenta anos desde a criação da Província, cento e doze anos da chegada do Padre Moussier ao Porto de Santos, 168 anos da aparição de Maria em Salette, cinquenta anos da presença saletina na Bahia, cinquenta anos da promulgação do Concílio Vaticano II... estas e muitas outras motivações são oportunidades de fazermos a releitura da história, do carisma, dos apelos e clamores que vem dos “Bartimeus” a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”(Lc 18,38).
 
02.     Oitenta anos de Província: dupla oportunidade de irmos ao “deserto”
 
No deserto teremos que sempre olhar para nós mesmos
No deserto não tem nada para olhar, não há nada que vai nos chamar atenção, e por isto somos obrigados a olhar para nós mesmos, somos o objeto de nossa própria análise – no deserto nos redescobrimos – e começamos a conhecer onde realmente podemos chegar e onde descobrimos que temos forças que jamais pensamos que teríamos.
Não se trata de um olhar “narcisista”,  em dizer “espelho, espelho meu”... mas oportunidade de olhar para dentro de nós mesmos e re-cordar (fazer passar de novo pelo coração) a nossa fidelidade ao projeto de vida que abraçamos (VRC); olhar como estamos assumindo nossas prioridades provinciais; olhar como vivenciamos o nosso carisma...perceber nosso “amor primeiro” e nossa paixão por Jesus e seu Reino.
 
O deserto nos faz refletir sobre a nossa condição
“Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos” (Dt.8.2)
Isto aconteceu com Agar e o seu filho no deserto, eles saíram errantes com a finalidade de apenas sobreviver no deserto. A sua condição de mãe foi apenas colocar o seu filho debaixo de um arbusto para que ele pudesse morrer sem ela ver, pois ela achou que não tinha mais solução, e a sua condição era apenas aquela. Deus agiu: “Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está” [estava no deserto] (Gn 21.17). Isto aconteceu porque ela estava apenas olhando a provação do deserto, mas, quando ela começou a ouvir a voz de Deus no deserto, começou a ver a saída: “Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela uma poço de água”. No deserto, ou em tempo de prova, precisamos que o Senhor abra os nossos olhos, para podermos enxergar e ver a saída, ver aquilo que os outros não veem.
Ao celebrar oitenta anos do caminhar enquanto Província, somos convidados a rogar ao Senhor da Messe, que abra nossos olhos e nos faça enxergar saídas para os impasses que a vida comunitária nos apresenta; a buscar saídas criativas para as situações enfrentadas na missão e que nos leva em certos momentos nos perguntar: o que fazer? Mas sobretudo este é o tempo propício de na Fé, fazermos a experiência do Deus Fiel, do Deus Conosco, tão bem expressada na resposta litúrgica: “Ele está no meio de nós”!
 
No deserto somos capacitados por Deus
O deserto faz parte da própria experiência Cristã: (Rm.5.3-5): “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança; Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo”...
Oitenta anos (duas vezes quarenta!) é tempo de renovar a esperança. Quem sabe a oportunidade em reler a carta enviada aos saletinos, pelo Papa João Paulo II, por ocasião dos 150 anos da aparição, ao afirmar: “Salette é uma mensagem de esperança”. É tempo de renovar a esperança, de deixar Deus agir em nós! É tempo prospectivo!
 
 
03.     Oitenta anos de Província: dupla oportunidade de avaliarmos a MISSÃO!
Passados os 40 dias durante os quais se mostrou aos apóstolos sob as aparências de uma humanidade normal que ocultavam a sua glória de Ressuscitado, Jesus Cristo é elevado aos céus e senta-se à direita do Pai. Ele é o Senhor que agora reina com a sua humanidade na glória eterna de Filho de Deus e, sem cessar, intercede por nós junto do Pai. Envia-nos o Espírito Santo e tendo-nos preparado um lugar, dá-nos a esperança de um dia chegarmos ao céu para estarmos com Ele.
É interessante ter em conta que o número 40 simboliza na Bíblia o tempo que requer o povo para tomar consciência do projeto de Deus. Uma vez compenetrado dele, vence as tentações que pretenderam desviá-lo de seu cumprimento, afirma-se na vontade de Deus e prepara-se para a missão que tem adiante de si.
Para Lucas, o período dos 40 dias após sua ressurreição simboliza o tempo que Jesus teve de passar para convencer os discípulos de que na realidade tinha ressuscitado, e das consequências que tal fato teria na vida deles quanto à responsabilidade missionária como testemunhas mais próximas e confiáveis do Ressuscitado.
A Ascensão de Jesus marca o fim das suas manifestações visíveis aos discípulos e o começo da missão da Igreja assistida pelo Cristo ressuscitado e o Espírito Santo. É o tempo  do Espírito Santo, o tempo da Igreja. “Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu”? Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura”(Atos 1,11; Mc 16).
 
Pe Edegard Silva Júnior
Missionário Saletino

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