A mensagem de La Salette coloca em evidência o sonho de Deus
Maio 2021
Sonhando com o Filho e com a Mãe
“Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra’. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Gn 1,26-27). No início do livro do Gênesis e da História da Salvação, encontramos o “sonho de Deus” para a humanidade.
Encontramos uma dinâmica narrativa semelhante no início do ministério público de Jesus. Na sinagoga de Nazaré, Jesus compartilha com a presente assembleia outro sonho, aquele do seu ministério público, aplicando a si mesmo o que foi lido pelo Profeta Isaías (Lc 4,14-30).
Do ponto de vista narrativo, tanto Deus quanto Jesus são personagens guiados por “objetivos” e “propósitos”. Mas detenhamo-nos brevemente na figura de Jesus: desde os primeiros momentos do seu ministério público, Jesus é caracterizado como um homem de objetivos (metas-orientadas). O episódio de Nazaré, uma vez inserido no contexto da macro narrativa de São Lucas, funciona como um texto programático. Esta é a “Carta Magna Apostólica” de Jesus. Neste episódio, de fato, são delineados os objetivos do ministério de Jesus, expressos através do imaginário e linguagem profética. Assim abordado, o episódio de Nazaré permite-nos refletir sobre a importância de termos “metas” e “objetivos no Espírito”, tanto na nossa vida religiosa como na nossa vida apostólica.
Primeiro: estabelecer a si mesmo “metas e propósitos no Espírito” é uma responsabilidade espiritual (veja, por exemplo, Fl 3,12-15). Podemos viver “por padrão” ou projetar criativamente nosso caminho de vida seguindo os impulsos do Espírito. Podemos viver estabelecendo “metas” e “objetivos” para nós mesmos, ou deixar que as circunstâncias decidam por nós o que fazer. É a diferença entre viver e existir, entre viver simplesmente reagindo às circunstâncias ou viver traçando nosso caminho de seguimento de Jesus de Nazaré.
Segundo: “objetivos e intenções no Espírito” são afirmações de fé. Dizem o que é importante e relevante para nós e, ao mesmo tempo, testificam nossa experiência de Deus e também nossa confiança Nele. Frequentemente, grandes “metas” e “propósitos” traem uma fé profunda, enquanto pequenas “resoluções” ou “metas” podem aludir a uma fé instável e superficial (ver Ef 3,20-21). Frequentemente, a medida de nossa fé em Deus decide a medida de nossos sonhos, “metas” ou “propósitos”.
Terceiro: ter, tanto na vida religiosa como apostólica, “metas e intenções no Espírito” evita o risco de perder o foco e a direção. Eles evitam o risco de correr incertos batendo no ar em vão (veja 1Cor 9,26).
Quarto: “metas e intenções no Espírito” nos motivam a persistir e perseverar.
Quinto: “metas e intenções no Espírito” edificam e moldam nosso caráter cristão. À medida que corremos em direção aos nossos “objetivos” e “propósitos”, também colaboramos com o Espírito na construção de nosso caráter como discípulos de Jesus de Nazaré (ver Fl 3,12).
Agora, como o Filho, a Mãe também tem um sonho. Um sonho que se torna missão para nós. As palavras finais do discurso da Bela Senhora de La Salette a Maximino e Melânia revelam o seu sonho: “Transmiti isso a todo o meu povo”. Um sonho “em andamento”. O sonho dela. Nossa “meta ou objetivo no Espírito”.
Chamados a identificar-se com Deus
“Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra”. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Gn 1,26-27).
Deus sonhou com o homem e o criou à sua imagem e semelhança. E também por ter desobedecido, o homem tenha perdido a amizade divina, o pecado não destruiu totalmente esta relação, pois Deus sonhou com a restauração do gênero humano e, por isso, enviou seu Filho (Jo 3,16). O plano de enviar o Filho foi precedido por grandes figuras testadas na fidelidade, como Noé, Abraão, Moisés, Davi. Com eles, e especialmente depois de Moisés, Ele sonha em ter todo um povo profético; ele sonha com o dia em que poderá purificar o homem, trocar seu coração de pedra por um de carne, infundi-lo com o Espírito Santo. O sonho se torna realidade em seu Filho Jesus Cristo que expiou nossos pecados por meio de seu sangue derramado na cruz. Desta vez, Cristo, nossa paz, deu a Deus a oportunidade de se aproximar Dele novamente. O sonho se realiza no dia de Pentecostes com o envio do Espírito Santo que criará intimidade, relacionamento e um corpo cujos membros são todos aqueles que aceitam o convite para entrar no Reino inaugurado por Cristo.
O sonho de Deus se identifica com a vontade de Deus que deseja que “todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Portanto, todo homem deve se aproximar de Cristo “o caminho da verdade e da vida”.
“Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade”. Neste convite, o mensageiro é o porta-voz de seu Filho amado. Não traz uma mensagem nova, tem por objetivo orientar-nos a colocar em prática os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. É justamente para lá que a mensagem de La Salette nos leva, ao sonho de Deus, no sentido de que busca tirar o homem da lama do materialismo, do secularismo e da indiferença em que se encontra imerso.
“Se se converterem, as pedras e rochedos se transformarão em montões de trigo!” Convertei-vos e crede no Evangelho (Mc 1,15) foi o grande apelo que Jesus fez ao mundo, e em sua aparição em La Salette e em outros lugares, Maria continua a repetir a mesma mensagem. A conversão do homem é a garantia da sua santificação e o primeiro passo para a harmonia do nosso planeta. O estado mental do homem influencia o universo a se voltar para Deus ou se desviar de seu Criador. O que assistimos hoje com a pandemia Covid-19 pode-nos ajudar a rever nossa posição diante de Deus.
A maneira como os mundanos tentaram administrar a situação dispensando Deus, testemunha, de agora em diante, a perplexidade do homem em avaliar as coisas do alto. Um exemplo concreto são as restrições que os fiéis têm para realizar seus cultos nas igrejas em um momento em que, paradoxalmente, a abertura de supermercados e vários tipos de eventos não encontraram obstáculos. Nesta situação de mundanismo, convém censurar o nosso silêncio, que se confunde com um certo conformismo. Pelo contrário, Nossa Senhora afirma fortemente o primado do espiritual, submetendo-se a Deus.
Somos destinados ao paraíso
No seu discurso, Jesus recordou: «Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia» (Jo 6,39). Este é o plano de ação de Deus em todos os tempos. Chamados à existência, com a nossa colaboração na concepção da nova geração, somos para Deus como “a menina dos seus olhos”. Ele se preocupa para que todo homem concebido na terra compartilhe a vida na eternidade com o Deus Único e Trino. No momento da concepção, o homem recebe um dom extraordinário: a dignidade de um potencial habitante do Céu com Deus e com os demais seres humanos.
Maria é a representante daquela sociedade que agora já terminou sua peregrinação terrena. Ela conhece bem todo o desígnio de Deus e vem mostrar-nos onde a dignidade da pessoa humana destinada ao Céu está ameaçada. Com a sua Mensagem, ele quer despertar em nós o desejo do Céu e a importância do encontro com o Seu Filho na Eucaristia, além de nos sensibilizar para o respeito por Aquele que por amor se doou a si mesmo.
Melânia e Maximino eram adolescentes simples, mas a história que vivenciaram no encontro com a Bela Senhora nada tinha a ver com a mentira ou com a manipulação. Eles registraram tudo perfeitamente: o vestido próprio de uma camponesa não ocultou a majestade celestial de Nossa Senhora; sua maneira de falar era tão extraordinária que até mesmo a língua estrangeira e a longa conversa com ela ficaram indelevelmente marcadas na memória dos videntes, pois sua fala era fortemente marcada por uma origem além do mundo, e sua voz, apesar de sua aflição, suscitou confiança e compaixão nos dois. As lágrimas de Maria comoveram visivelmente Melânia e Maximino, e cada vez que eles contavam esse acontecimento, eles notavam esse fato, por sua vez, despertando profunda emoção nos ouvintes; o próprio desaparecimento de Maria suscitou nas testemunhas do encontro com Ela, uma reflexão sobre o fato de que não lhe haviam pedido que os levasse consigo; embora não soubessem quem era a Senhora, queriam ir aonde Ela fosse, porque a impressão que a sua presença suscitou foi tão bela e beatificante.
Triste, mas também grande e necessária, foi a novidade trazida a todos nós naquela tarde de 19 de setembro de 1846. A Rainha do Céu e da Terra vem para libertar em nós a consciência de que somos para Deus: de que somos Seus filhos. A única predestinação ligada ao simples fato de ser homem é a do céu. Não há outra predestinação nos planos de Deus. Se este plano não leva o homem ao Céu, é só por culpa dele - porque o próprio homem não o quer!
A Mãe de Deus e a Mãe dos homens, gerando o Homem mais distinto da terra, Jesus Cristo, nos lembra que em Seu Filho somos todos irmãos. Desfrutamos da mesma dignidade que o Filho de Deus, porque Deus decidiu nos adaptar como Seus filhos de Sua divina eleição.
Embora Maria nos mostre antes nossas omissões em seguir o plano de Deus, quando refletimos sobre Sua Mensagem, surge em nós o desejo de prestar atenção às coisas de Deus e de querer melhorar nosso relacionamento com Deus por meio de Jesus Cristo.
Maria abre uma janela para que vejamos a realidade na qual ela já está presente e para a qual quer nos dirigir a todos. É sobre o céu e a vida eterna com Deus.
Quem o deseja, fortalece seu coração materno.
Flavio Gillio MS
Eusébio Kangupe MS
Karol Porczak MS